Drogas entram com facilidade no RN

domingo, 2 de junho de 2013

O Rio Grande do Norte é um Estado de divisas e mares vulneráveis ao tráfico de drogas. Sem infraestrutura adequada à fiscalização de embarcações e veículos, em decorrência da falta de barreiras fixas em terra ou nos portos estaduais, a entrada de entorpecentes no solo potiguar é uma operação de risco baixo para os experientes traficantes. Nos últimos anos, o número de apreensões de drogas caiu a índices superiores a 70%, sem nenhuma explicação técnica da Polícia Federal.

Divisas e mares vulneráveis ao tráfico

Ricardo Araújo - Repórter

Estrategicamente posicionado na “esquina” do Brasil, no ponto mais próximo dos continentes europeu e africano, o Rio Grande do Norte é uma rota potencial para o tráfico internacional de drogas, afirma a Polícia Federal. Entretanto, não dispõe de uma infraestrutura adequada para a fiscalização ostensiva de rodovias e hidrovias e o declínio no número de apreensões de drogas feitas pela Polícia Federal no estado indicam a fragilidade dos órgãos de segurança nas ações de  combate ao tráfico de entorpecentes.  Entre os anos de 2011 e 2012, o total de apreensões de entorpecentes localmente caiu a índices de 72,83% no caso da cocaína e zerou, em relação ao LSD.

 A Polícia Federal não sabe explicar, tecnicamente, os motivos da diferença dos números, apontando que nenhum estudo foi elaborado para identificar os reais motivos desta diminuição. O órgão ressaltou, em contrapartida, que o Rio Grande do Norte é um estado “muito vulnerável” à atuação das quadrilhas de tráfico internacional de drogas, que utilizam a malha aérea e marítima local como modal de escoamento da cocaína, que é consumida, principalmente, em países europeus. Atualmente, as argumentações do órgão de segurança federal relacionados à redução do montante apreendido, são baseadas em “conjecturas e possibilidades”, que vão desde a mudança de rota do tráfico, migração e/ou prisão dos traficantes.
Cedida/PFHá casos, e não são raros, de passageiros que tentam embarcar com drogas envoltas na cinturaHá casos, e não são raros, de passageiros que tentam embarcar com drogas envoltas na cintura

 “A Polícia Federal ainda não parou para analisar a oscilação dos números entre um ano e outro. Não temos um estudo a respeito disso”, reconhece o titular da Delegacia Regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal no RN, Rubens França. No estado potiguar, a Polícia Federal dispõe de duas bases de operação, uma em Natal e outra em Mossoró, que atuam, prioritariamente, na área de inteligência. O Posto Avançado que existia em Caicó foi fechado e nem mesmo o Porto de Natal dispõe de uma Delegacia de Polícia Marítima que, em estados com fronteiras continentais, atua no patrulhamento costeiro e fiscalização de embarcações turísticas e cargueiras.

 Mesmo sem restrição de atuação geográfica, atualmente o trabalho da Polícia Federal no combate ao tráfico de drogas no estado é ininterrupto no Aeroporto Internacional Augusto Severo, em Parnamirim. É lá onde ocorre o maior número de apreensões de entorpecentes em pequenas quantidades, sendo o principal produto, a cocaína, que é encontrada em bagagens, calçados, aparelhos eletrônicos ou até mesmo coladas ao corpo ou impregnadas nas roupas dos transportadores, conhecidos como “mulas”. No Porto de Natal, conforme exposto pelo delegado federal Rubens França, ocorrem “operações pontuais”, assim como nas divisas do estado potiguar com outras unidades federativas.

Equipamentos de segurança são falhos

 A concentração de agentes da Polícia Federal no Aeroporto Internacional Augusto Severo, de acordo com o delegado Rubens França, se dá por dois motivos: pela proximidade do estado potiguar com os continentes europeu e africano, consumidores em potencial da cocaína traficada a partir dos aeroportos do Brasil e pelo advento de eventos com grande concentração de público, como a Copa do Mundo de 2014. Atualmente, o terminal aeroviário potiguar conta com três agentes federais trabalhando em regime de plantão 24 horas.

 Entretanto, de acordo com dados da PF, o incremento no número de agentes no aeroporto não foi suficiente para dirimir problemas antigos relacionados ao combate ao tráfico de drogas. Isto porque a União investe pouco em equipamentos de segurança e identificação de produtos com composição orgânica dentro de bagagens e até mesmo nas roupas ou coladas ao corpo dos passageiros que traficam entorpecentes. Há casos, e não são raros, de passageiros que tentam embarcar em voos internacionais e são pegos com drogas, geralmente cocaína, envoltas na cintura e nas pernas, cobertas por camadas de fita adesiva. As apreensões, via de regra, ocorrem por causa do comportamento suspeito dos traficantes.
Cedida/PFOs aparelhos de segurança são capazes de identificar entorpecentes em bagagens despachadas. Mas algumas passam despercebidasOs aparelhos de segurança são capazes de identificar entorpecentes em bagagens despachadas. Mas algumas passam despercebidas

 O delegado Rubens França explicou que esta tentativa de transporte ilegal ocorre devido ao raio-x do portão de embarque do Aeroporto Internacional Augusto Severo não ser sensível a itens de baixa densidade, como a cocaína. Somente o aparelho disponível para a fiscalização de malas e bagagens que são despachadas é capaz de identificar a presença de entorpecentes. Entretanto, algumas malas passam despercebidas, em decorrência do grande volume e do número reduzido de agentes para acompanhar a passagem dos objetos pelo aparelho.

A expectativa da PF é de que, em breve, todas as bagagens sejam avaliadas com o uso de novos equipamentos de segurança e fiscalização. Não foram informados prazos, contudo.  A PF defende maiores investimentos e melhorias da infraestrutura. “Natal deveria ter uma estrutura melhor não só da Polícia Federal, mas de todos os órgãos de fiscalização marítima e terrestre”, defende o delegado.

Em dois anos, apreensão de maconha cai 44%

Entre os anos de 2011 e 2012, o percentual de maconha apreendida no Estado potiguar sofreu uma queda de 44,43%. Dos 871 quilos retirados de circulação em 2011, o total subtraído no ano passado foi de 484 quilos. Em relação ao crack, o montante de pedras retiradas da posse dos traficantes foi de 255,7 quilos em 2011 contra 129,7 quilos no ano passado.
Em relação às drogas como ecstasy e LSD, nenhum comprimido ou microponto, respectivamente, foi retirado de circulação no Rio Grande do Norte em 2012. O LSD (Ácido Lisérgico Dietilamida) ou 'Doce' é um psicodélico e alucinógeno feito a partir de um fungo. Vem em quadrados pequenos de papel ou cartolina absorvente (cartelas).

Conforme dados da Polícia Federal, a entrada de drogas no estado potiguar se dá, via de regra, através do transporte terrestre. Os maiores fornecedores de maconha e crack para os traficantes potiguares são os estados do Ceará e Pernambuco.

A cocaína, por sua vez, é traficada de países como Bolívia e Peru e distribuídas pelo Brasil através de uma complexa e ampla teia de traficantes que comandam o comércio até mesmo de dentro dos presídios. Informações divulgadas pela Agência Brasil de Comunicação, na semana passada, destacam que “1% da droga que entra no Brasil é produzida na Bolívia, o restante é procedente da Colômbia e do Peru”.

 A Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed), em decorrência do feriado e o ponto facultativo decretado na sexta-feira passada, não informou o montante de drogas apreendidos entre os anos de 2010 e 2012.
 
Tribuna do Norte

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