De Francisco Francerle para o Diário de Natal
Instalação de cercas de segurança, muro alto, proteção nas janelas e até contratação de segurança privada. As providências tomadas por algumas escolas de Parnamirim como forma de fechar as portas para a violência das gangues juvenis e grupos rivais compostos de alunos e ex-alunos dos estabelecimentos, agora vão ganhar o reforço de um Conselho de Segurança. Organizado pelo 3º Batalhão da Polícia Militar, 2ª Dired, professores, pais e alunos, o Conselho já definiu uma série de medidas administrativas para combater a violência entre estudantes, principalmente durante os 21º Jogos do Campeonato das Escolas Estaduais e Municipais (CEM'S) que começam amanhã, envolvendo quase mil atletas de 12 municípios.
Dentre as medidas administrativas anunciadas pelo comandante do 3º Batalhão da Policia Militar, tenente coronel Jair Junior, estão o controle das quadras esportivas onde haverá as competições registrando o horário de quem sai e entra na escola, monitoramento dos uniformes de torcidas organizadas, sendo necessário autorização da direção da escola, e o controle dos pais que podem ser responsabilizados por omissão caso o filho se envolva em conflitos. Outra medida é a inclusão no regulamento dos jogos de artigo que promete desclassificar qualquer equipe que pratique qualquer ato de vandalismo ou agressão criminal.
Além disso, o comandante alerta que a PM já fez mais de 30 termos circunstanciados de ocorrências (TCOs) sobre os acontecimentos de 1º de setembro, quando um grupo de adolescentes, identificado como alunos e ex-alunos de várias escolas, protagonizou cenas de violência durante desfile cívico no bairro de Passagem de Areia, provocando tumulto, baderna e medo à população. "No dia do evento a PM realizou várias prisões e a Ronda Escolar e o Serviço de Inteligência da PM já sabe quem são os adolescentes envolvidos nas agressões. Eles estão sendo monitorados e seus nomes serão encaminhados ao Ministério Público nos próximos dias", disse ele.
O comandante Jair Júnior ainda ressalta outros cuidados que devem ser observados pelos gestores de escolas para prevenir atos de agressão. Ele orienta as escolas a comunicarem à polícia qualquer evento que envolva segurança pública, como assalto e venda de entorpecentes nos arredores da escola. Além disso, os alunos não devem ficar fora de hora perambulando pelas ruas em locais escuros. "Nossa Inteligência e a Ronda Escolar estão atentas, temos a informação quem são as pessoas que rondam as escolas e estão formando torcidas organizadas e provocando tumultos".
Além disso, as escolas têm obrigação de comunicar também à PM, e aos órgãos municipais, qualquer evento de entidade estudantil, como festas, por exemplo, que serão fiscalizadas por viaturas para prevenir problemas no local, como a ingestão de bebidas alcoólicas por adolescentes. "Nessas festas, eles começam a beber, discutir e terminam levando as questões para sala de aula, criando uma rivalidade sem sentido", disse o comandante ressaltando ainda que já pediu reforço de patrulhamento na área comercial da cidade por ocasião desses eventos para que o comércio também não seja surpreendido por assaltos devido às atenções estarem voltadas para os jogos escolares.
Diretores de escolas recebem ameaças anônimas
Além dos atos de violência verificados no desfile, diretores e professores de escolas de Parnamirim têm recebido ameaças anônimas por telefone, por e-mail e até pelo Twitter. As Escolas Estaduais Roberto Krause, Presidente Roosevelt e Professor Eliah Maia do Rego são as que mais têm registrado o problema. Na Escola Estadual Presidente Roosevelt, no centro da cidade, um professor foi agredido verbalmente por um perfil falso no Twitter. Nessa escola, o diretor Iranilton Costa de Oliveira chegou a apreender um punhal caseiro que apareceu nas dependências do estabelecimento.
A direção da Escola Estadual Roberto Krause confirmou que chegou a receber ligações anônimas de pessoas que ameaçavam invadir o estabelecimento. As ameaças davam conta de que 30 pessoas iriam invadir o estabelecimento, o que deixou direção, professores e alunos preocupados, providenciando com urgência a contratação de segurança particular, instalação de cerca elétrica, fechamento em definitivo de janelas e, ainda, elevação das paredes e colocação de grampos no muro.
De acordo com o diretor da escola, Demóstenes Ribeiro de Ribeiro, boa parte dos envolvidos nas confusões são ex-alunos que rivalizam pelo simples fato de "defenderem" o nome da escola. "Eles brigam para impor um domínio não se sabe de quê, simplesmente copiam as atitudes de torcida organizadas de times de futebol e começam a praticar atos idênticos de vandalismo e agressão a outros jovens", disse Demóstenes.
Além disso, eles são articulados, têm camisa personalizada com os símbolos e marcas das torcidas organizadas das escolas, tem site e blogs na internet onde marcam encontros e possíveis confrontos com as facções rivais.
Jogos envolvem 900 alunos e 38 escolas
A abertura da 21ª edição dos Campeonatos das Escolas Estaduais e Municipais do Estado do RN (CEM's) será amanhã, no auditório da Universidade Potiguar, localizado na Escola Municipal Maria do Céu, em Parnamirim, das 8h ao meio-dia. A competição envolve 900 alunos de 38 escolas municipais e estaduais de 12 municípios da circunscrição da II Dired. As competições irão acontecer em quadras e piscinas de cinco escolas, mas a Escola Estadual Professor Eliah Maia do Rego e a Arena do Parque Industrial deverão receber maior atenção por parte dos serviços de segurança.
Tumulto em desfile cívico
Na manhã do dia 1º de setembro, uma briga entre grupos rivais interrompeu o desfile cívico dos alunos do Centro de Aprendizagem e Integração de Cursos (CAIC) de Parnamirim e de mais três escolas. O confronto foi generalizado e vários adolescentes foram apreendidos no momento da confusão e outros encaminhados para o atendimento no Hospital Pronto-Socorro Dioclécio Marques. O alvoroço só foi contido quando os policiais militares da Ronda Escolar e do 3º BPM apreenderam 14 adolescentes e os conduziram à 1ª Delegacia de Polícia Civil. Apesar de nenhum dos detidos estar portando arma branca ou de fogo, foram disparados tiros de arma de fogo, causando correria entre os alunos e professores, que tiveram de concluir o evento por falta de segurança. Por falta de provas quanto à autoria dos crimes, eles foram liberados.