O número de munições desviadas das forças policiais e militares no Estado do Rio de Janeiro entre 2000 e 2010 chegou a 32.696, segundo a apuração da CPI da Assembleia Legislativa que investigou o tráfico de armas. Não há dados consolidados sobre recuperação do material subtraído. Leia também: Rio teve 1.580 armas desviadas de órgãos públicos entre 2000 e 2010 Só a Aeronáutica teve 20.040 balas desviadas. Um dos maiores roubos ocorreu em fevereiro de 2010 quando 2 mil munições para pistolas nove milímetros foram desviadas do 3º Comando Aéreo Regional (3º Comar), no centro do Rio. Já no Exército houve desvio de 11.373, sendo cerca de 9 mil delas subtraídas em dezembro de 2007 do Depósito Central de Munição, em Paracambi, na região metropolitana. Segundo a CPI, a PM teve 466 munições desviadas no período sendo 215 cartuchos calibre 5,56 mm (fuzil), 140 calibre 7,62 mm (fuzil) e 140 calibre 40 (pistola).
Já na Marinha, foram 817 projéteis subtraídos. Vinte foram recuperados.
Ao contrário do que ocorreu com as armas, a área pública superou a privada em número de desvios. O setor particular perdeu 10.730 balas no mesmo período.
Agentes suspeitos O relatório da CPI das Armas também levantou que, entre 2000 e 2010, ao menos 2.024 pessoas foram indiciadas, processadas ou presas entre 2000 e 2010 pelo crime de tráfico de armas no Estado.
Dentre elas, há 82 policiais militares, 32 bombeiros militares, 29 policiais civis, quatro agentes penitenciários, três policiais federais, 88 membros das Forças Armadas (65 do Exército, 12 da Marinha, 11 da Aeronáutica), dois guardas municipais e 250 civis, além de 1.531 pessoas sem qualificação. Os nomes dos suspeitos não foram citados no relatório devido à possibilidade de terem sido inocentados ou ainda não julgados. Números podem ser maiores Coordenador da CPI das Armas, o delegado da Polícia Civil do Rio Vinicius George afirmou ao iG que o número de desvios de armas e munições de forças policiais e militares pode ser ainda maior do que o citado no relatório.
Segundo ele, houve corporações que não passaram dados confiáveis e outras que demonstraram falta de controle interno do armamento.
"As informações passadas pela PM foram frágeis. Os bombeiros não passaram informação alguma. Já outros órgãos, como a Polícia Civil, tiveram boa vontade em informar mas apresentaram um nível de desorganização grande em seu controle interno. Não havia banco de dados informatizado, controle de distribuição pelas unidades. Somente as Forças Armadas apresentaram dados mais precisos. O número desviado é maior do que o citado no relatório, com certeza. Não diria o dobro, mas é difícil fazer uma estimativa", disse
O delegado explicou que devido a baixa qualidade nas informações, por exemplo, não foi possível fechar um número sobre o número de explosivos desviados, como granadas, por exemplo.
George declarou que o número de armamentos e munições desviados não o surpreendeu e que é impensável dizer que, no caso dos desvios, não houve a participação de alguém das próprias corporações.
"As informações costumam vir de alguém de dentro. Um policial que trabalhava no depósito central de armas da PM e ficava responsável por receber todo o armamento e distribuí-lo era envolvido com traficantes. Munições que foram desviadas de batalhões da PM foram usadas no assassinato da juíza Patrícia Acioli", disse ele citando alguns casos de participação de policiais nos desvios.
Segundo ele, os desvios podem ser por roubo ou furto e os destinos são sempre traficantes, bicheiros, milicianos ou para cometimento de crimes pelo próprio responsável pela subtração do material.
A respeito do baixo índice de recuperação das armas desviadas verificado pelo relatório, Vinicius George disse também não ter ficado surpreso. Segundo ele, a deficiência no controle interno dos armamentos e munições também compromete o papel do Estado na fiscalização do mercado privado, da onde ocorreu o maior número de desvios
"Se o Estado não consegue controlar o que está dentro, quem dirá do que está fora. Como é que o próprio vai fazer um controle eficaz do mercado privado, desde a fabricação até a venda nas lojas. ", declarou.
George explicou ainda que, apesar do desvio de armas ser maior no mercado privado, ele é mais qualitativo nos órgãos públicos.
"A maioria dos desvios na iniciativa privada é de armas curtas enquanto nos órgãos públicos saem muitos fuzis", argumentou. No ano passado, embora os dados não tenham sido totalizados, surgiram notícias de desvios de armas e munições públicas. Uma delas foi de um fuzil que desapareceu dos quadros da Força de Pacificação do Exército que atuava nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte. O outro caso foi de uma investigação que apontou um PM do Bope (Batalhão de Operações Especiais) envolvido no desvio de munições da polícia. Os projéteis, de acordo com a apuração, teriam sido negociados com traficantes do município de Itaboraí, na região metropolitana. Houve ainda um caso do desaparecimento de munições do Batalhão Escola de Comunicações do Exército, na Vila Militar, em Deodoro, na zona oeste da capital.
Mario Hugo Monken, iG Rio de Janeiro via policialbr.com