Líderes de organizadas do RN criticam preconceito com as torcidas
segunda-feira, 29 de julho de 2013
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Por Thyago Macedo
É comum ver no noticiário policial mortes associadas à briga entre torcidas e, geralmente, nesses casos, os integrantes das torcidas organizadas acabam sendo citados ou apontados como autores de crimes. Porém, de acordo com os líderes das principais torcidas organizadas do Rio Grande do Norte, existe um preconceito e generalização quando o assunto é violência.
A reportagem do Portal BO conversou com o presidente da TGA, hoje chamada de Torcida Garra Alvinegra, bem como com o atual presidente da TMV, que também teve sua nomenclatura mudada para Tradição, Motivação e Vibração. Os dois afirmam que as organizadas buscam, na verdade, proporcionar benefícios para os torcedores e, de maneira alguma, existe incentivo à violência.
José Weverton dos Santos, que está como presidente temporário da TMV, explica que ingressou na torcida ainda criança e que muitas famílias integram a organizada. “Nossa torcida, ao contrário do que muitos pensam, tem um ambiente altamente tranquilo, inclusive, somos cadastrados no Ministério Público e temos relacionamento direto com a Polícia Militar e até mesmo com a diretoria da outra torcida, sempre buscando o que melhor para os torcedores”, destaca.
O mesmo é dito por Cristiano Francisco, presidente da TGA há um ano e meio. Ele reforça, inclusive, que há alguns anos, justamente para evitar a relação com a violência, as duas torcidas mudaram as nomenclaturas e retiraram os nomes Gang e Máfia. “Hoje, nós temos uma sede própria, na qual recebemos nossos associados que vêm aqui para comprar um material na lojinha ou para comprar ingressos e também para as reuniões que fazemos periodicamente”, comenta.
Tanto Cristiano como José Weverton são categóricos em afirmar que os integrantes das torcidas que realmente são associados se preocupam em zelar pelas organizadas, bem como se preocupam com os clubes que representam. “O camarada que veste uma camisa falsificada, por exemplo, eu nem considero torcedor. Nós mesmos, dentro da TMV, pregamos que só entra na sede ou só acompanha o time se tiver usando tudo original, pois isso é o que alimenta tanto a torcida como o clube”, afirma Weverton.
Já Cristiano Francisco ressalta que as torcidas organizadas acabam sofrendo com um problema que ele intitula “modinha”. “Muitos jovens nem sabe como funciona a organizada, mas acha bonito dizer que é da TGA, por exemplo, compra uma camisa e sai por ai, geralmente, dentro dos próprios bairros, dizendo que é da torcida sem ser. Isso nos gera muito problema, pois quando acontece alguma coisa, as pessoas associam logo à briga de torcidas”.
O presidente da TGA cita como exemplo um caso recente envolvendo duas adolescentes. Uma de 12 anos matou outra de 16. “Chegaram a associar as duas como integrantes da TGA e da TMV, porém, a gente e a diretoria da outra torcida nem mesmo conhecíamos essas meninas. Elas jamais foram integrantes das organizadas. Ou seja, as pessoas generalizam justamente pelo preconceito que têm com as torcidas. É muito mais fácil colocar a culpa na gente do que cobrar da polícia uma investigação”, desabafa Cristiano Francisco.
Apesar disso, Cristiano e José Weverton reconhecem que parte do preconceito é fruto do próprio histórico de violência envolvendo torcedores. Os dois lembram que, no passado, realmente, houve confrontos e até mortes entre integrantes, mas que, atualmente, a maioria dos casos em que são citadas as torcidas os envolvidos não são sócios das organizadas.
“O que a gente observa é que muita gente que se diz da TGA ou da TMV e, na verdade não são, mas que tem envolvimento com drogas e acabam morrendo por causa do tráfico. Mas como eles sempre dizem que são das organizadas, as pessoas acabam associando a morte à briga entre torcidas”, comenta José Weverton.
As duas torcidas organizadas, que representam ABC e América-RN, além na área do futebol, também costumam realizar ações sociais, como doações de cestas básicas para instituições carentes e também doações de brinquedos e roupas para crianças de comunidades carentes. “Isso ninguém mostra. As pessoas nos julgam como marginais, mas, na verdade, muita gente não conhece nosso trabalho”, completa Cristiano Francisco.