Pesquisas confirma: condições de trabalho de PM’s do RN leva a “síndrome do esgotamento”
quinta-feira, 22 de maio de 2014
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Salários baixos, falta de estrutura adequada e o estresse normal da profissão. A atual situação da Polícia Militar do Rio Grande do Norte é um ambiente ideal para o desenvolvimento de uma síndrome desconhecida para a maioria, mas que pode influenciar diretamente na qualidade do serviço prestado pelos policiais do Estado.
“Ainda estamos na fase final para lançar o resultado da pesquisa que fizemos. Mas o que posso adiantar é que a maioria dos policiais que entrevistamos está na fase inicial de desenvolvimento da Síndrome de Burnout”. A afirmação é da estudante Júlia Braz, do 9º período do curso de Fisioterapia da UNI-RN, que juntamente com a colega de turma, Julyana Kelly, escolheu “A Análise de Risco do Desenvolvimento da Síndrome de Burnout em Policiais de Natal” como tema do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).
Burnout é um conjunto de sinais e sintomas psicológicos e emocionais, que incluem desgaste físico e fadiga. O problema leva ao esgotamento profissional e está entre as Doenças Profissionais Relacionadas ao trabalho (DORT). Ele se desenvolve exclusivamente em profissões nas quais os trabalhadores precisam lidar diretamente com a população, situação que acontece com as atividades policiais.
“Queríamos fazer um TCC no sentido da fisioterapia de prevenção, que não é muito estudada. Então começamos a pesquisar e a Julyana achou essa Síndrome de Burnout, que nós não conhecíamos. Começamos a estudar e vimos que é uma síndrome de esgotamento profissional, que atinge muitas pessoas que trabalham na área da saúde e também da educação. Muitos professores deixam de trabalhar por conta dos sintomas dessa síndrome. Mas queríamos trazer o foco diferente, foi aí que escolhemos estudar a Síndrome na Polícia Militar”.
O estudo, que além de entrevistas, também conta com um questionário, foi feito no Batalhão de Polícia de Choque do RN (BPChoque). Um total de 69 policiais responderam as perguntas das estudantes. “Eles (os policiais) reclamaram da questão da estrutura, que não é a ideal para o trabalho. As condições não oferecem um mínimo conforto para eles. Durante o período de greve (em abril os policiais pararam por 12 horas), eles também questionaram a questão da alimentação e do fardamento. Eles explicaram que não tem fardamento para todo mundo e muitas vezes precisavam comprar do próprio bolso. Era uma situação realmente precária. Como disse, ainda não fechamos a pesquisa, mas sem dúvida alguma as condições de trabalho dos policiais ajuda no desenvolvimento da Síndrome de Burnout”, destacou Julyana Kelly.
Além das condições de trabalho, o estresse pelo qual os policiais do BPChoque passam também influencia no surgimento da síndrome. “O BPChoque é um batalhão que lida diretamente com a população. É um batalhão de ação mais ostensiva, que é chamado em situação de maior risco. Além disso, os policiais também reclamaram do excesso de trabalho. Eles falam que trabalham 24 horas. Que chegam as 7h de um dia e saem de 7h do outro, mas isso nem sempre acontece, já que eles ainda precisam esperar os outros chegarem. Também tem a questão de outros serviços. Muitos policiais que eram para estar de folga, precisam trabalhar em outros eventos, como um jogo na Arena das Dunas. Os policiais reclamaram que trabalham muito e ganham pouco”, explicou Júlia.
Três fatores caracterizam bem essa síndrome, são eles: a exaustão emocional, a despersonalização e a diminuição da realização pessoal. A exaustão emocional (EE) caracteriza-se por fadiga intensa, falta de forças para enfrentar o dia de trabalho e sensação de estar sendo exigido além de seus limites emocionais. A despersonalização (DE) caracteriza-se por frieza, dureza no contato, distanciamento emocional e indiferença nas relações com os colegas de trabalho ou com os usuários do serviço; a diminuição da realização pessoal (RP) se expressa como falta de perspectivas para o futuro, frustração e sentimentos de incompetência, percepção de um desempenho insatisfatório e fracasso.
Existem determinadas pessoas que são mais propensas a desenvolverem a Burnout. “Quem for solteiro tem maior disposição para desenvolver, pois não tem uma base, uma pessoa do lado para apoiá-lo em um momento complicado, de estresse. A idade também, quanto mais velho maior a frustração. O sexo é outro fator, se for do sexo feminino está mais sujeito a desenvolver, pois a mulher é cobrada tanto dentro de casa quanto no trabalho”. Destacou Júlia Braz.
O relatório do TCC, que será apresentado apenas depois da Copa do Mundo, também será enviado para o BPChoque. A intenção é que possa ser feito um trabalho de prevenção para que a Síndrome de Burnout não atinja um nível maior. “Como o policial fica muito estressado, ele pode desenvolver problemas no corpo. Ele pode ter uma gastrite nervosa, pressão alta. Tudo isso por um problema emocional. Quando chega nesse estágio, o tratamento seria análises psicológicas, medicamentos que são estimuladores do sistema nervoso e afastamento dos trabalhos”, afirmou Júlia.
No limite físico e mental
Para falar sobre a pesquisa que está sendo feita no BPChoque, o Jornal de Hoje entrou em contato com o major Marlon, subcomandante do BPChoque. Ela afirmou que os policiais do batalhão realmente são muito exigidos fisicamente. “O BPChoque trabalha em várias situações. Atua no combate ao crime, nas fiscalizações. Entramos em presídios para que as revistas possam ser feitas. Trabalhamos em manifestações e em eventos. Também trabalhamos muito a parte física aqui. Então eles estão sempre no limite físico”, destacou.
O emocional também é outro fator que é muito trabalhado, principalmente para que os policiais consigam manter a calma em determinadas situações. “Temos os exemplos das manifestações. Tem muitos manifestantes que participam desses movimentos exclusivamente para provocar a polícia. Os nossos policiais são xingados e muitos levam cusparadas na cara. Imagina o desgaste emocional em uma situação dessas. O policial está sendo agredido e tem que se manter calmo para não causar uma situação ainda pior”.