De Paulo Nascimento especial para o Diário de Natal
A capital potiguar teve, entre 2000 e 2010, o terceiro maior percentual de crescimento do número de homícidios entre todas as 27 capitais do Brasil, ficando atrás apenas das capitais da Bahia e do Maranhão, sendo Salvador a líder do crescimento e São Luís a segunda colocada. O salto foi de 251,4%, passando de 74 mortes violentas no início da década para 260 no ano passado, totalizando pouco mais de 1900 homicídios neste período. Os números de 2010 ainda não estão completo, mas já apontam para o aumento consolidado na estatística.
A Região Metropolitana de Natal também encontra-se entre as líderes ranking de crescimento de números de homicídios, ocupando a sexta colocação. O aumento na década passada foi de 221,2%, com um salto de 113 homicídios na virada do século para 363 em 2010, com números ainda não consolidados. O total de homícidios na Região Metropolitana alcança o patamar de 2733 mortes violentas, para uma população que chega próximo da casa do 1 milhão de habitantes. Todas as estatísticas apresentadas vem do Mapa da Violência 2012, elaborado pelo Instituto Sangari, de São Paulo. O relatório anual, que é produzido pelo instituto desde 1998 e constituído com números dos ministérios da Justiça e da Saúde, foi divulgado esta semana.
O Mapa 2012 destaca inúmeros fatores da violência dentro do país e divide por cada cidade, Estado e Região Metropolitana. Na parte destinada ao Rio Grande do Norte, os números apontam para realidade de violência que o potiguar lê e assiste diariamente nos últimos anos. O relatório afirma que entre 2004 e 2010, o Estado encontra-se em um espiral crescente de violência, na contramão da diminuição de homicídios registrados no Brasil. Nestes seis anos, o percentual brasileiro caiu por ano 3,1% enquanto que o Estado subiu 96,2%, a Região Metropolitana - com destaque para Macaíba e São Gonçalo do Amarante, além da própria capital - teve um acréscimo de 106% e o interior potiguar pouco mais de 86%. Com a taxa de homícidio, que mede a quantidade de homicídios a cada 100 mil habitantes, a história não foi diferente na primeira década deste século. O RN e a Região Metropolitana ficaram próximos de dobrar seus percentuais.
O acréscimo na violência em solo potiguar, de acordo com o estudo feito pelo Instituto Sangari, aponta para um tendência regional do Nordeste brasileiro. Cidades antes tratadas como pacatas, como a capital paraibana João Pessoa, também registram um grande salto tanto nos seus números absolutos como na taxa de homícidios por 100 mil pessoas. Uma análise rápida dos dados mostra uma espécie de migração das mortes violentas, com as mortes nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro diminuindo substancialmente, e as capitais nordestinas subindo de forma rápida, com exceção de Recife, que nos últimos 10 anos teve uma queda no registro. Outro número que denuncia o quadro de violência no Nordeste é o ranking das taxas de homicídio. Entre as cinco maiores taxas do país, o Nordeste emplaca quatro, com Maceió na liderança, acompanhada de João Pessoa, Recife e São Luís.
A interiorização da violência também é forte no RN. O Mapa da Violência potiguar de 2000, por exemplo, mostrava que 100 municípios do Estado - cerca de 60% - não registraram homicídios naquele ano. Já no ano passado, a quantidade cai para 79 municípios sem registro, configurando um aumento de aproximadamente 13% no número de municípios. Em um ritmo ainda mais acelerado apareceram, em 10 anos, mais que o dobro de municípios com uma taxa acima da média nacional: de 15, em 2000, para 32 no ano passado. Ainda na seção destinada ao RN, o Mapa da Violência mostra como a violência cresceu de forma praticamente igual em todos os lugares do estado. As taxas de homicídio nos municípios entre 5 e 10 mil habitantes (50 em todo o Estado) passaram dos 156% (de 12 para 32 homicídio) em 10 anos, enquanto que Mossoró e Parnamirim juntas bateram o indíce 167% - saindo de 48 mortes violentas em 2000 para 175 no último ano.
As estatísticas potiguares fazem parte de um cenário maior, que coloca o Brasil em um estado de guerra não declarada. Os números da violência e um simples comparativo com os últimos grandes conflitos mundiais registrados desde a década de 1960 confirmam o quadro. De 1980 até 2010, o Brasil registrou 1.091.125 homicídios, uma média de pouco mais de 36 mil mortes violentas a cada ano. O conflito que mais aproximou-se da situação brasileira foi a guerra civil angolana, que foi de 1975 até 2002, vitimando cerca de 550 mil pessoas, praticamente a metade do que se matou no Brasil, com uma diferença de apenas três anos de duração. Conflitos muito mais longos, como a batalha entre israelenses e palestinos e o movimento de independência da Caxemira, na Índia, que acontecem desde a década de 1940, não estão sequer próximos de alcançar os números brasileiros.