Homicídios crescem 189% no RN
Andrey Ricardo - Jornal de Fato
O Rio Grande do Norte teve o
segundo maior crescimento em índice
de homicídio durante os últimos 10
anos entre as 27 unidades federativas
do Brasil. A incômoda posição foi
divulgada ontem pelo Instituto
Sangari, através do Mapa da Violência
2012. O RN só perde no aumento da
violência para o Estado do Pará.
Enquanto a média nacional de
crescimento foi de 10%, entre 1980 e
2010, no RN foi de 189%. O estudo
mostra também que 32 cidades
potiguares cresceram acima da média
no Brasil em dez anos.
A pesquisa engloba todos os
assassinatos registrados pelas 27
unidades federativas entre os anos de
1980 e 2010. Os números são
fornecidos pelos governos estaduais e
o cálculo é feito mediante uma
comparação entre o número de
homicídios e a quantidade de
habitantes. O estudo mostra que o
Rio Grande do Norte atravessou dois
períodos distintos nesses 30 anos.
Esse crescimento exacerbado da
violência pode ser verificado a partir
de 2004. Até então, a média de
homicídios era baixa. É a partir daí
que o índice encosta na média
nacional e depois disso dispara,
ficando quase 20 vezes maior.
Nesse primeiro período, entre 1980 e
2004, a taxa de violência avança
lentamente. Os autores da pesquisa
afirma que esse crescimento lento é
devido o aumento da violência nas
cidades do interior, que aos poucos
vão elevando o posicionamento do
RN perante os outros estados e a
média nacional. Nesse primeiro
período, o Rio Grande do Norte tinha
a segunda menor média do Brasil,
com 11,7 mortes a cada 100 mil
habitantes. De 2004 em diante, a
violência avança aceleradamente nas
cidades potiguares, colocando a
unidade norte-rio -grandense como a
segunda mais violenta do Brasil, em
índice de avanço.
Das 167 cidades que integram o
estado norte-riograndense , 32 delas
se destacam pelos índices de
violência. Curiosamente, o maior
índice (feito pela relação matemática
entre o número de assassinatos e a
quantidade de habitantes) é de Tibau,
cidade distante 42 km de Mossoró. De
acordo com o estudo, a média
nacional das cidades é de 26 mortes a
cada 100 mil habitantes em diante.
Tibau apresenta uma taxa de 81,4,
quase três vezes mais violenta do que
a maioria das cidades brasileiras. A
cidade tem uma característica
particular: no período de veraneio, o
número de habitantes exorbita.
Abaixo de Tibau surge a pequena
João Dias, na região Alto Oeste, com
um índice de 76,9 assassinatos, a
segunda maior média no RN. Logo
atrás vêm Caraúbas (71,5 ), que tem
tido destaque em vários outros
estudos da violência a nível nacional;
Rafael Godeiro (65,3 ); Riacho da Cruz
(63,2 ); Almino Afonso (61,6 ), cidade
que também figurou noutras
pesquisas; e Mossoró (52,7 ),
município que também tem aparecido
em incômodas posições em outros
estudos que verificam a média de
assassinatos - surgiu inclusive em
outras edições do Mapa da Violência
nos Municípios Brasileiros.
Índice de homicídio maior que o
Iraque
SÃO PAULO - A cidade baiana de
Simões Filho, com 116 mil habitantes,
foi o município brasileiro mais
violento entre 2008 e 2010, segundo o
Mapa da Violência 2012, divulgado
pelo Instituto Sangari ontem. Nesse
período, a cidade que fica na Região
Metropolitana de Salvador registrou
146,4 assassinatos por 100 mil
habitantes. O único município do Rio
Grande do Norte incluído entre os
mais violentos é Caraúbas, onde
foram registrados 68,5 mortes por
100 mil habitantes.
O segundo lugar do ranking, atrás do
município de Simões Filho é a cidade
de Campina Grande do Sul, no
Paraná, com 130 homicídios por 100
mil habitantes no período. Outra
cidade baiana, a turística Porto
Seguro, encontra- se entre as cinco
mais violentas do Brasil, com 108
assassinatos por 100 mil habitantes.
O levantamento mostra que, na
média, 67 cidades brasileiras ficaram
com o índice de homicídios acima do
registrado no Iraque no período de
guerra. O país do Oriente Médio teve
um índice de 64,9 mortes para cada
100 mil habitantes. Três capitais estão
na listagem de mais violentos do que
o país em conflito: Maceió (9 .º), Recife
(43.º) e Vitória (em 52.º) .
De acordo com o pesquisador da
Sangari, Julio Jacobo Waisefisz, o
cenário da violência tem se
descentralizado e aumentado no
interior dos Estados. "(Houve ) o
deslocamento dos polos dinâmicos
da violência: de um reduzido número
de cidades de grande porte para um
grande número de municípios de
tamanho médio ou pequeno. Se as
atuais condições forem mantidas, em
menos de uma década as taxas do
interior deverão ultrapassar as das
capitais e regiões metropolitanas
país", disse.
O interior está mais violento e
pode superar grandes cidades
É nesse cenário que a violência tem se
descentralizado e se tornado um
fenômeno crescente no interior,
aponta o pesquisador Julio Jacobo
Waisefisz. No estudo, ele detectou "a
reversão do processo de
concentração da violência homicida,
que vinha acontecendo no país desde
1980".
"A disseminação e a interiorização
tiveram como consequência o
deslocamento dos polos dinâmicos
da violência: de um reduzido número
de cidades de grande porte para um
grande número de municípios de
tamanho médio ou pequeno. Se as
atuais condições forem mantidas, em
menos de uma década as taxas do
interior deverão ultrapassar as das
capitais e regiões metropolitanas
país."
Assim, cidades pequenas como
Simões Filho (BA), com 116 mil
habitantes, Campina Grande do Sul
(PR), com 37,7 mil habitantes, e
Marabá (PA) , com 216 mil, passaram a
liderar, nesta ordem, o ranking de
municípios com as maiores taxas de
homicídio por 100 mil habitantes.
Taxas gerais. Em geral, o Brasil viu
suas taxas de homicídio crescerem
quase constantemente entre 1980 e
2003, quando chegou a 28,9 mortes
por 100 mil habitantes. A partir desse
ano, os índices se reduziram e, com
algumas oscilações, se estabilizaram.
Nesses 30 anos, a população também
cresceu, embora de forma menos
intensa, aponta o "Mapa da
Violência".
"Passou de 119 milhões para 190,7
milhões de habitantes, crescimento
de 60,3%. Considerando a população,
passamos de 11,7 homicídios em 100
mil habitantes em 1980 para 26,2 em
2010. Um aumento real de 124% no
período."
Também preocupa o fato de a
violência ainda incidir de forma muito
mais intensa entre a população
negra. Segundo o estudo, em 2010
morreram, proporcionalmente, 139%
mais negros do que brancos no país.
Brasil contabiliza mais de 1 milhão
de assassinatos
SÃO PAULO - Com 1,09 milhão de
homicídios entre 1980 e 2010, o Brasil
tem uma média anual de mortes
violentas superior à de diversos
conflitos armados internacionais,
apontam cálculos do "Mapa da
Violência 2012", produzido pelo
Instituto Sangari e divulgado nesta
quarta-feira.
O estudo também conclui que,
apesar da redução das mortes
violentas em diversas capitais do país,
o Brasil mantém um índice epidêmico
de homicídios - 26,2 por 100 mil
habitantes -, que têm crescido
sobretudo no interior do país e em
locais antes considerados "seguros".
Calculando a média anual de
homicídios do país em 30 anos, Julio
Jacobo Waisefisz, pesquisador do
Sangari, chegou ao número de 36,3
mil mortos no ano - o que, em
números absolutos, é superior à
média anual de conflitos como o da
Chechênia (25 mil), entre 1994 e 1996,
e da guerra civil de Angola
(1975-2002 ), com 20,3 mil mortos ao
ano.
A média também é superior às 13 mil
mortes por ano registradas na Guerra
do Iraque desde 2003 (a partir de
números dos sites iCasualties.org e
Iraq Body Count, que calculam as
mortes civis e militares do conflito).
"O número de homicídios no Brasil é
tão grande que fica fácil banalizá-lo" ,
disse Waisefisz à BBC Brasil.
"Segundo essas mesmas estatísticas
(feitas a partir de dados do Sistema
de Informações de Mortalidade do
Ministério da Saúde), ocorreram, em
2010, quase 50 mil assassinatos no
país, com um ritmo de 137
homicídios diários, número bem
superior ao de um massacre do
Carandiru por dia", diz o estudo, em
referência à morte de 111 presos no
centro de detenção do Carandiru (SP),
em 1992.
ESTADOS
Por um lado, o "Mapa da Violência" vê
motivos para otimismo: o Brasil
estabilizou suas taxas de homicídio e
conseguiu conter a espiral de
violência em Estados como São Paulo,
Pernambuco e Rio de Janeiro (onde ,
entre 2000 e 2010, o número de
homicídios caiu respectivamente
63,2%, 20,2% e 42,9 %).
Por outro lado, o estudo aponta que
"nossas taxas ainda são muito
elevadas e preocupantes,
considerando a nossa própria
realidade e a do mundo que nos
rodeia, e não estamos conseguindo
fazê-las cair" . "Estados que durante
anos foram relativamente tranquilos,
alheios à fúria homicida, entram
numa acelerada onda de violência",
diz a pesquisa.
É o caso, por exemplo, de Alagoas,
que, com 66,8 homicídios por 100 mil
habitantes em 2010, se tornou o
Estado com o maior número de
mortes violentas (era o 11º em 2000).
O Pará, que era o 21º Estado com
mais mortes violentas em 2000, subiu
para a terceira posição em 2010, com
uma taxa de 45,9 homicídios por 100
mil habitantes.
Vários fatores podem explicar essa
migração, diz o estudo: o
investimento em segurança nas
grandes capitais e suas regiões
metropolitanas, fazendo com que
parte do crime organizado migrasse
para áreas de menor risco; melhoras
no sistema de captação de dados de
mortalidade, fazendo com que
mortes antes ignoradas no interior
pudessem ser contabilizadas; e o fato
de algumas partes do país terem se
tornado polos atrativos de
investimento sem que tivessem
recebido, ao mesmo tempo,
investimentos em segurança pública.
Além disso, muitas regiões mais
afastadas dos grandes centros
também são locais de conflitos
agrários ou ambientais, zonas de
fronteira ou rotas do tráfico - fatores
que tendem a estimular a violência.