São Paulo vive onda de ataques que deixou 127 mortos em 10 dias
quarta-feira, 4 de julho de 2012
Há suspeita de reação do PCC a ação de PMs contra membros da facção
Do Brasil de Fato
Entre os dias
17 e 28 de junho deste ano, 127 pessoas foram assassinadas na capital
paulista, representando 73% dos 174 assassinatos no Estado de São Paulo,
uma média de quase 12 mortos por dia. Os números são do Sistema de
Informações Criminais (Infocrim) da Secretaria da Segurança Pública. Ao
total, o número de homicídios foi 53% maior em comparação a junho de
2011.
O aumento da
violência começou no dia 28 de maio, quando policiais da Ronda Ostensiva
Tobias Aguiar (Rota), após troca de tiros, na zona leste de São Paulo,
mataram cinco homens e executaram um rapaz após o confronto. Há indícios
de que os suspeitos mortos sejam da facção criminosa do Primeiro
Comando da Capital (PCC).
Tortura e Repressão
Segundo testemunhas, o rapaz detido, ainda vivo, teria sido levado para a
região do Parque Ecológico do Tietê, onde o teriam torturado e
assassinado a tiros. Os policiais foram presos em flagrante pela
Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e
Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil.
Imediatamente
após o ocorrido, o policiamento se intensificou na zona leste da cidade.
Segundo o morador da Cidade Tiradentes Wellington Lopes Goes, a Polícia
Militar aumentou o cerceamento na região. “Desde aquele episódio, a
polícia está em peso rodando aqui no bairro”, conta. Por outro lado, ele
afirma que por ordem de pessoas ligadas ao crime, a escola em que
leciona fechou de terça a sexta-feira. “A ordem era fechar a escola, a
Unidade Básica de Saúde (UBS) e os comércios. A partir do meio dia não
podia ficar mais nada aberto”, revela Wellington.
Onda de Violência
A partir desses
episódios, uma onda de violência desencadeou-se em São Paulo no mês de
junho: seis policiais militares foram mortos, 13 ônibus foram
incendiados, bases da Polícia Militar foram baleadas, toques de recolher
nos bairros foram anunciados pela própria polícia e grupos de
extermínio agiram nas periferias, matando jovens durante a noite e
madrugada.
No Parque
Bristol, bairro da zona sul, a própria polícia militar entrou nos
estabelecimentos e mandou fechar as portas dos comércios, segundo relata
o morador da região, Paulo Rams. Segundo ele, na terça-feira, 26 de
junho, os policiais foram até o bairro e falaram para ninguém ficar na
rua a partir das 22h, pois quem não obedecesse seria averiguado e levado
para a delegacia. “Aqui na região também incendiaram três ônibus. Tanto
de um lado como do outro estão deixando a população acuada. Algumas
pessoas estão dizendo que quem está colocando fogo nos ônibus são os
próprios policiais.” Paulo afirmou ainda que na última semana de junho
três jovens foram assassinados no Parque Bristol.
“Drogados”
Em apenas
quatro dias, de 24 a 27 de junho, 25 pessoas foram mortas na parte leste
da região metropolitana. Os crimes ocorreram em Ferraz de Vasconcelos,
Poá, Itaquaquecetuba e Mogi das Cruzes.
A informação é
do capitão Joel Chen, comandante da PM em Ferraz, concedida ao jornal
Folha de São Paulo. Chen justifica as mortes dizendo que “muitos desses
mortos são usuários de drogas” e que “os crimes ocorreram em áreas que
são pontos de venda de entorpecentes”.
Absurdo
Para o assessor
jurídico da Pastoral Carcerária, Rodolfo Valente, o comentário do
comandante é um absurdo. “As vítimas não são as mesmas pessoas que vêm
confrontando policiais e, ainda que fossem, não é dessa forma que se
combate a suposta criminalidade”, salienta, referindo-se ao assassinato
dos seis policiais desde o início do mês de junho.
“A polícia não
tem prerrogativa de matar ninguém, ainda que seja perseguição ou
situação de flagrante. Pelo menos o que dizem é que vivemos num estado
democrático de direito, mas a gente sabe que não é assim. Eles
[policiais] não estão de maneira nenhuma legitimados a executar as
pessoas”, comenta Valente.
Quatro horas, nove mortos
Somente na
noite de segunda-feira, em 25 de junho, nove jovens, entre 16 e 20 anos,
foram assassinados. Os crimes ocorreram nos bairros paulistanos Jardim
Robru, Capão Redondo, Jardim Ângela e Jardim São Luis, além do município
de Poá, na região metropolitana da capital paulista.
Dessas nove
mortes, quatro ocorreram no Jardim Picosse, em Poá. Os jovens Dênis
Silva Aparecido e Estevam Marine de Campos, ambos de 19 anos, estavam na
rua Pará, na altura do número 178, com Raimonde Anunciação Batista, de
20 anos, e Hederton José Cunha, de apenas 16.
Tiroteio
Uma das
moradoras do bairro que não quis se identificar por medidas de
segurança, relatou ao Brasil de Fato que os jovens estavam indo a uma
pizzaria que fica na mesma rua em que moravam. De repente, começou um
tiroteio. “Teve um que foi assassinado nos pés da mãe, enquanto outro
morreu agachado porque estava tentando se esquivar dos tiros”, conta.
A polícia
militar foi acionada, e ao chegar ao local encontrou as quatro vítimas
no meio da via pública. Os jovens foram levados ao pronto-socorro
central da cidade, mas não resistiram e morreram.
Um dia após a
chacina, a própria polícia militar mandou fechar todos os comércios do
bairro, deixando os moradores acuados e com medo de saírem de suas
residências.“No dia seguinte, os comércios estavam todos fechados. A
dona de um bar disse que os policiais passaram avisando que era pra
fechar tudo às 14h. Depois que isso aconteceu, ninguém sai mais na rua,
pois o clima aqui está muito tenso”, conta a moradora.
Investigação
A chacina foi
registrada no Distrito Policial do município e está sendo investigada
pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).
Débora Maria,
do Movimento Mães de Maio, ressalta que essas chacinas são semelhantes
às que ocorreram em maio de 2006, quando grupos de extermínio ligados à
polícia militar assassinaram mais de 500 pessoas em apenas oito dias.
“Os policias pegam os ‘supostos autores’ dos crimes e assassinam. Antes
deles acharem, deveriam procurar saber se são realmente criminosos e
puni-los exemplarmente, mas acontece que primeiro eles matam pra depois
saber quem é a vítima. A gente vê uma higienização da pobreza por parte
da polícia do estado de São Paulo”, argumenta.
Caros Amigos via policialbr.com