SP: Publicitário é morto por PMs durante abordagem na zona oeste de SP
Um publicitário de 39 anos foi morto a tiros durante uma tentativa de abordagem policial na região do Sumaré (na
zona oeste de São Paulo), na madrugada desta quinta-feira. Três policiais militares foram presos
O publicitário Ricardo Prudente de Aquino passava de carro pela praça da Paz quando foi abordado pelos policiais.
Em nota, a PM disse que informações preliminares indicam que ele fugiu do local e os policiais iniciaram perseguição.
Ainda de acordo com a PM, Aquino atingiu o carro de outra equipe que também participou do cerco. Ao abordarem
o publicitário após a batida, na avenida das Corujas, os policiais teriam visualizado um objeto na mão dele, que
parecia com uma arma, e atiraram. A nota da polícia aponta que os PMs podem ter confundido o aparelho de celular
com uma arma.
Ao todo, cinco tiros atingiram o carro do publicitário. Ele foi socorrido e encaminhado para o Hospital das Clínicas,
mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
Os três PMs foram presos e encaminhados para o 14º DP (Pinheiros), onde caso foi registrado. Eles afirmaram à
polícia que encontraram 50 gramas de maconha com o publicitário. Após serem ouvidos eles foram transferidos para
o Presídio Romão Gomes, na zona norte de São Paulo.
Na manhã desta quinta-feira, um tenente da Polícia Militar foi até a casa do publicitário e pediu desculpas à família
dele.
Um pesadelo. É assim que a publicitária Lélia Pace
Prudente de Aquino, de 35 anos, define os instantes após
saber da morte de seu marido, o empresário Ricardo
Prudente de Aquino, alvo de disparos de policiais militares
na noite de quarta-feira (18), na Zona Oeste de São Paulo.
"Para mim, ele é minha família. Ele é tudo o que eu tinha.
Não sei como vou continuar daqui para frente."
Lélia e Ricardo estavam juntos havia nove anos, sendo
quatro como casados. A publicitária estava tentando
engravidar, já que o casal não tinha filhos. "É tão difícil
encontrar uma pessoa que você ame e que faça tudo por
você. Ele era assim. Tinha um coração excelente,
batalhador, sempre ajudava as pessoas. Amigo,
companheiro."
Segundo a Polícia Civil, a abordagem ao empresário
ocorreu às 22h25, conforme indicaram as câmeras de
segurança de prédios no entorno. Segundo o boletim de
ocorrência, os policiais militares observaram que o veículo
de Aquino, um Ford Fiesta, trafegava em alta velocidade e
começaram uma perseguição. Outros carros e motos da
PM fizeram o reforço. Ao chegar à Avenida das Corujas,
no Alto de Pinheiros, o Fiesta foi fechado um carro da
polícia. Sem que o motorista reagisse, os PMs atiraram.
Um disparo atingiu a cabeça de Ricardo.
A vítima foi socorrida ao Hospital das Clínicas, mas não resistiu.“Tanto a Polícia Civil como a Polícia Militar estão
comprometidas com a legalidade. Houve uma falha operacional e diante desse quadro [o delegado] Pedro Ivo decidiu
autuar em flagrante os componentes dessa viatura”, disse o delegado-seccional Dejair Rodrigues.
Primeiras informações
Lélia afirma que soube da saída do marido da casa de um amigo através de um torpedo, na noite de quarta. O celular
do empresário estava sem bateria, e quem enviou foi o colega.
"Recebi o torpedo às 22h50, dizendo que ele tinha acabado de sair de Alphaville e estava vindo para casa. E não
chegava. Esperei até meia-noite e pouco", recorda. "Fiquei pensando: será que ele parou em uma padaria? Será que
foi no aniversário do amigo dele? Sabe quando você imagina tudo?", contou.
Ela diz ter sido acordada por uma ligação dizendo que Ricardo havia sofrido um acidente de carro. "Pensava ser um
trote."
A Polícia Civil considera que os tiros dados pelos policiais militares foram a curta distância, e que houve falha
operacional na conduta dos PMs. A corporação já havia admitido mais cedo que há indícios de falhas no
comportamento do cabo e dos dois soltados. Eles foram autuados em flagrante por homicídio doloso e levados para
o Presídio Militar Romão Gomes, na Zona Norte.
Ordem de parada
No carro, foram encontrados 50 g de maconha, mas a Polícia Civil não sabe informar se isso teria eventualmente
motivado o motorista a não obedecer a ordem de parada. Segundo o delegado seccional, os policiais alegaram ter
atirado porque viram que o motorista tinha um objeto preto na mão. “Apurou-se que o objeto era um celular”, disse
o delegado. Os PMs não tinham registro de má conduta. O empresário não tinha passagem pela polícia.
A Polícia Militar emitiu nota para esclarecer a abordagem. "Ressalta-se que os Policiais Militares do estado de São Paulo
são submetidos a treinamentos constantes quanto aos procedimentos operacionais padrão e que tal atitude será
apurada com rigor pois dão indícios de falhas de procedimento inaceitáveis. Dessa forma a Polícia Militar pede
desculpas à família, à Sociedade e esclarece que, após as apurações, os envolvidos pagarão pelos seus erros na
medida de suas atitudes", informa o texto.
Letícia Macedo Do G1 SP