Polícia para quem precisa
Rafael Barbosa - Repórter do Tribuna do norte
Uma reclamação é comum à maioria das pessoas que trabalham e transitam pelas vias natalenses durante a madrugada: falta polícia nas ruas. A TRIBUNA DO NORTE foi conferir a informação e por quase dez horas, entre as 20h da quinta-feira passada e as 6h da sexta, percorreu 135 quilômetros nos diversos bairros da capital potiguar para verificar a situação. O saldo foi de seis viaturas vistas em patrulhamento, três na zona Leste, e as outras três em cada uma das outras regiões, em diferentes horários da noite.
Júnior SantosDurante o percurso a equipe encontrou uma viatura policial em Mãe Luiza
O trajeto começou no bairro Ribeira e seguiu até o Quilômetro Seis, passando por localidades das zonas Sul e Norte da capital, em algumas da principais avenidas da cidade, como Hermes da Fonseca e Prudente de Morais. Logo no início do caminho, na avenida Rio Branco, Cidade Alta, a equipe se deparou com um posto policial na esquina com a rua João Pessoa que funcionava normalmente. No entanto eram 20h36. Um dos dois PMs que faziam guarda no local, que não quis se identificar, informou que o posto é fechado às 23h, quando diminui a movimentação no bairro. Porém ele mesmo confirmou que as reclamações da população são constantes com relação aos furtos e assaltos na praça Padre João Maria, atrás da antiga Catedral.
Os crimes ocorrem enquanto o posto está aberto e também depois que as atividades são encerradas. “Quando conseguimos deter os responsáveis, em sua maioria viciados, eles são liberados nas delegacias e retornam para cometer novos delitos”, reclamou o policial. O maior motivo da liberação, segundo ele, é o fato de as vítimas preferirem não registrar a queixa. A zona Leste de Natal foi a região onde a reportagem mais visualizou a presença de viaturas (três), se concentrando na Ribeira e na Cidade Alta. Lá também foi o local em que mais divergiram as opiniões por falta de policiamento entre os comerciantes.
O que não aconteceu na zona Norte. Na maior região de Natal, com o maior número de habitantes, quase todos os comerciantes e populares que aguardavam o transporte público nos pontos de ônibus reclamaram a falta de viaturas e policiais transitando, com exceção dos estabelecimentos localizados próximos a bases da PM. Alguns funcionários de comércios visitados pela reportagem da TRIBUNA DO NORTE revelaram que é preciso pagar aos policiais militares para que eles passem com mais frequência em determinados locais.
Passando pela zona Sul da cidade, em Ponta negra, as maiores reclamações são na orla da praia. O comerciante carioca Ricardo Lima mora em Natal há 25 anos e trabalha na orla de Ponta Negra há 15, vendendo sanduíche. Ele disse à reportagem que o policiamento cessa depois que também diminui o movimento nos bares. “Isso por volta das 23h”, disse. Carioca, como é mais conhecido o vendedor, afirmou também que isso acontece desde que tiveram início as deteriorações do calçadão. “Foi quando diminuiu o movimento e o policiamento”, explicou.
A TN também esteve na zona Oeste, na Cidade da Esperança, mais precisamente na Rodoviária da cidade. Por lá, as reclamações partiram dos taxistas, que entram a noite carregando os passageiros que chegam à capital potiguar. Um deles, José Francisco, de 72 anos de idade, afirmou que raramente vê as viaturas da Polícia Militar circulando pela região, apesar de o 9º Batalhão da corporação, responsável pelo patrulhamento na zona Oeste, ficar sediado a alguns metros do terminal rodoviário e dos bares que ficam abertos 24 horas por dia na avenida Capitão Mor Gouveia.
Polícia não divulga efetivo diário em Natal
A Polícia Militar preferiu não divulgar o número de policiais por turno que atuam nos Batalhões da corporação em Natal, por uma questão de segurança. De acordo com o coronel Alarico Azevedo, a divulgação da atuação dividida por horários do efetivo pode prejudicar o trabalho da PM, informando aos criminosos a quantidade e horários que os policiais estão na rua. No entanto, a média diária de homens na rua nas diferentes modalidades de policiamento na capital, segundo o coronel Francisco Canindé de Araújo Silva, comandante geral da PM, é de 800.
Júnior Santos
A avenida Coronel Estevam (av. 9), no Alecrim, durante a noite
Na Polícia Civil, são 15 delegacias distritais e 17 especializadas funcionando em Natal, segundo consta no site da Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social. As Dps funcionam das 8h às 18h, de segunda a sexta. Depois deste horário e nos finais de semana, duas delegacias ficam abertas para o registro de ocorrências: a Plantão Zona Sul e a Plantão Zona Norte. Essas duas também abrem por 24 horas nas sextas-feiras.
Ocorrências movimentam noite da cidade
Durante a noite, a reportagem se deparou com duas ocorrências policiais. A primeira ocorreu por volta das 22h da quinta-feira. Um homem de 40 anos foi assassinado em Mãe Luiza, na zona Leste da cidade, com mais de 15 disparos de arma de fogo. Quando a equipe chegou ao local, em um beco próximo à rua Pinto Martins, a polícia já estava. Uma viatura do 1º batalhão com cinco policiais atendeu a ocorrência e eles repassaram as informações. De acordo com o subtenente Emerson Menezes, José Carlos Alves de Almeida foi executado enquanto se drogava com o irmão e o padrasto. “O alvo dos criminosos foi ele, pois o irmão não foi atingido por nenhum tiro”, afirmou o PM. José Carlos caiu morto no sofá em que estava sentado com o irmão. Não houve tempo sequer para receber atendimento médico. Segundo a família, ele usava drogas há algum tempo, mas nunca havia sido detida por envolvimento com o tráfico de entorpecentes. A investigação da autoria do homicídio fica a cargo da Polícia Civil.
Outro crime foi registrado já pela 1h da madrugada da sexta, apesar de ter iniciado às 21h, segundo as vítimas. Uma quadrilha invadiu o Centro Administrativo do governo e arrombou três caixas eletrônicos do Banco do Brasil localizados na sede da Secretaria de Educação e da Cultura (Seec). Quanto a TN chegou ao local, também havia duas viaturas, desta vez do Batalhão de Choque. Os vigilantes que faziam guarda no prédio relataram que cerca de nove homens participaram da ação. Eles renderam os vigias e os mantiveram presos em uma sala. Em seguida, arrombaram os terminais com maçaricos e fugiram com o dinheiro roubado. Em nenhuma das ocorrências os responsáveis pelos crimes foram detidos, apesar de a PM ter realizado diligências à procura deles.