PM usa pressão militar, ameaçaexclusão sumária, e tropa vai àsruas
Usando o regulamento militar, o
comando geral da PM do Rio
endureceu o tratamento com os
grevistas e aumentou a pressão sobre
a tropa, ameaçando expulsão
sumária da corporação em 15 dias,
impedindo licenças médicas e
conseguiu reduzir em grande parte
a
força do movimento na capital. A
rápida reação do Alto Comando
conseguiu quebrar consideravelmente
a resistência da tropa.
No boletim interno desta sexta-feira
(10), o comando determinou que
todos os policiais que aderirem à
greve serão presos
administrativamente e
automaticamente submetidos ao
Conselho de Disciplina, órgão que
avalia punições disciplinares para os
praças (de soldados a subtenentes)
para infrações graves. A punição
pode chegar à exclusão.
Leia também: Justiça Militar pede
prisão de 11 líderes grevistas no Rio
Nessa linha, um decreto do
governador Sérgio Cabral publicado
nesta sexta-feira em edição
extraordinária diminui de 30 para 15
dias a conclusão dos trabalhos e
reduz prazos de recursos e
julgamentos de PMs e bombeiros em
Conselhos de Disciplina.
Na madrugada desta sexta-feira (10),
um major da Corregedoria da 1ª
Delegacia de Polícia Judiciária Militar
(DPJM) foi ao 3º BPM (Méier) e
ameaçou de expulsão os PMs que se
preparavam para o aquartelamento,
vindos da manifestação no Centro.
"Vou fazer um pacotão e expulsar
todo mundo em três dias", disse à
tropa.
No 23º BPM (Leblon), um outro major
também de uma DPJM ameaçou
prender e expulsar integrantes que se
recusassem a sair para
patrulhamento. De acordo com um
oficial superior ouvido pelo iG, esses
militares foram às unidades em apoio.
Nos discursos de Ordem do Dia dos
comandantes de muitas unidades
com os policiais aquartelados, o tom
é de pressão, e os oficiais afirmam
que os insubordinados estarão
sujeitos à exclusão sumária da
corporação. O argumento principal é
o de que a greve de militares é
considerada ilegal pela Constituição
Federal.
Sob ameaça do regulamento, muitos
PMs começaram a ir para as ruas
patrulhar, mesmo em unidades onde
no início do dia havia aquartelamento
considerável, caso do 23º BPM
(Leblon). “Estou a dois anos de ir para
casa (para a reserva remunerada),
não posso arriscar tudo por esse
movimento”, justificou ao iG um
sargento de uma unidade da zona
sul.
Oficiais se recusaram a aceitar
qualquer pedido de licença médica e
chegaram a rasgar ostensivamente
papeletas de pedido do gênero.
Assim, PMs não podem alegar
problemas de saúde para evitar
trabalhar.
Os praças relataram se sentir sem ter
o que fazer, devido ao medo de
perder o emprego, sem direito a
indenização. Com boa parte dos
policiais temerosos de represálias
drásticas indo para a rua, os grevistas
de serviço vão ficando isolados nos
quartéis.
O militarismo, sob o qual a PM está
subordinado, tem como pilares a
hierarquia e a disciplina. Os
integrantes da corporação sabem
estar sujeitos a sanções disciplinares
por violações ao regulamento
administrativo. Recusar-se a cumprir
ordens, como a de fazer
patrulhamento ostensivo, pode
render punição.
Esses instrumentos de pressão,
previstos no regulamento militar,
estão sendo usados de forma a
pressionar a tropa a voltar a atuar
normalmente, ao mesmo tempo que,
em pronunciamentos oficiais e notas
aos meios de comunicação, a PM
procura tranqüilizar a população e
manter um discurso de que a
segurança pública e a tropa estão sob
controle total
.
Em tom sereno, o relações-públicas
da PM, coronel Frederico Caldas,
minimiza a extensão da greve e
reafirma o controle da corporação
sobre os policiais, embora não
explicite os mecanismos internos de
pressão que estão sendo usados,
com o intuito de se contrapor à
ameaça de segurança pública
deflagrada pela greve.
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