Centenas de peixes mortos sãoencontrados entre Ponta Negra eTouros
Sérgio Henrique Santos - Diário de
Natal
Mortandade de peixes no litoral do
Rio Grande do Norte. Uma
quantidade ainda desconhecida de
animais da espécie salema branca
(Archosargus rhomboidalis) foi
encontrada morta na beira da praia
em um trecho de aproximadamente
95 quilômetros da costa potiguar, que
compreende a orla entre Ponta Negra,
em Natal, e Touros, no litoral Norte. O
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) estuda três hipóteses para a
mortandade: uma doença que os
peixes tenham desenvolvido, um
parasita que infestou os animais ou
algum item da alimentação que possa
tê-los intoxicado.
A espécie é comum em todo o litoral
brasileiro e frequenta águas rasas, na
área do solo oceânico conhecida
como substrato, a parte composta
por rochas, recifes e gramíneas. "É
um animal que nada no fundo, mas
não em grandes profundidades.
Estranhamos porque não é comum
encontrá-los na superfície. Eles
frequentam locais onde há capim,
gramíneas e submarinos que
afundaram. A preocupação é porque
as pessoas estão tendo facilidade de
pegá-los , inclusive com a mão", relata
a analista ambiental do Ibama,
Marlova Intine, coordenadora do
Comitê de Prevenção e Atendimento a
Emergências Ambientais (Copaem),
que estuda desastres ambientais.
Os peixes são vistos mortos na areia
da praia e também vivos,
moribundos, se debatendo antes de
morrer. Embora não comercializem,
alguns pescadores relataram que
estariam consumindo os peixes
encontrados, o que não é
recomendável segundo a especialista.
"Não sabemos se o que matou o
peixe vai ou não fazer mal para o ser
humano. É difícil dizer a causa da
morte. Normalmente é uma
conjunção de fatores" , contou
Marlova Intine.
Esse tipo de animal come algas e
animais invertebrados, como os
moluscos e pequenos crustáceos.
Questionada se houve contaminação
por causa dos esgotos correndo para
a praia, que serviria como alimento
para algumas espécies de algas, a
analista ambiental não acredita nessa
possibilidade. "Pela distribuição da
mortandade, entre Ponta Negra e
Touros, dificilmente esgotos em Ponta
Negra, por exemplo, seriam
responsáveis pela morte de peixes no
litoral Norte, e não há nenhum
vazamento ou desastre próximo que
justifique essa mortandade",
destacou. "Podemos fazer um
diagnóstico com várias possibilidades,
inclusive a interação entre vários
fatores naturais, e outros de
influência humana. Pode ter a ver
com as microalgas tóxicas, com a
chegada de nutrientes no mar e
também com o aumento da
temperatura natural da água do mar".
Média de 50 a cada cinco quilômetros
Não há um censo de peixes mortos,
mas o Ibama acredita numa média de
50 em faixas de cinco quilômetros de
praia. O trecho onde foram
encontrados mais peixes foi numa
faixa de cinco quilômetros na praia
de Graçandu (Ceará-Mirim), onde
existiam cerca de 80 animais. Em
Ponta Negra, por causa da limpeza
urbana, não é possível quantificar o
total de peixes encontrados mortos a
título de estatísticas. Na vizinha Via
Costeira, entre 40 e 50 "indivíduos"
foram encontrados mortos numa
faixa de dois quilômetros próximo ao
calçadão.
O caso está sendo investigado pelo
Ibama, junto com profissionais do
Instituto de Desenvolvimento
Sustentável e Meio Ambiente (Idema),
Departamento de Oceanografia e
Limnologia da UFRN e a ONG
Oceânica. "Também enviamos
amostras a um laboratório em Santa
Catarina, e estamos investigando
fitotoxinas em microalgas coletadas
nos plânctons, e a ecotoxidade, as
microalgas tóxicas e faremos análise
de parasitas. Possivelmente o estudo
será feito com ajuda da Universidade
Federal Rural do Semiárido(Ufersa )",
destacou a pesquisadora.
Entre 15 e 20 dias deve ser emitido
um laudo preliminar com essas
primeiras análises. Um laudo final
conclusivo deve demorar. O Ibama
descobriu a mortandade através de
denúncias feitas por turistas,
moradores e pescadores desde o dia
16 de janeiro. Eles relataram, inclusive,
que já eram ocorrências recorrentes
antes mesmo dessa data. Quem tiver
novas denúncias pode procurar o
Ibama, através do telefone: (84)
3201-4230 (ramal 2002).
Outro caso
A mortandade nas salemas brancas
verificada essa semana não é a
primeira. Recentemente, em março
de 2010, centenas de moréias foram
encontradas no litoral Norte. Na
época, o Copaem chegou a encontrar
mais de 250 animais numa extensão
de um quilômetro. Vários fatores
foram apontados como causa
daquela mortandade. O mais
preponderante deles foi a elevação na
temperatura da água do mar.